segunda-feira, 25 de março de 2013


Saudade do futuro
(palavras de uma ave migratória do avesso - voa no sentido contrário, fugindo do verão... voando... afinal, "rodas movem a produção. Asas movem a imaginação")




Você já sentiu uma angústia latente? Um sentimento aparentemente sem motivo e tão oculto que se camufla no cotidiano, como se não existisse? Mas você, só você sabe que ele está ali... existindo... quase imperceptível, mas ao mesmo tempo irresistivelmente presente.

Um desses sentimentos na minha vida é o de “não pertencer”. Creio que seria melhor usar a expressão “pertencer-não pertencendo”. Sofro desse mal, que também poderia ser denominado de “ser estrangeira”. Independente de onde esteja, sempre sou estrangeira. Sou do tipo de pessoa que me adapta facilmente ao ambiente onde estou. Essa seria uma característica favorável ao sentimento exatamente oposto ao que descrevo no início desse parágrafo. Mas não o é. Mesmo me adaptando facilmente às mudanças, me sinto sempre diferente... estrangeira. Uma estrangeira com regalias. Com direitos adquiridos de estar alí, mas ainda assim, estranhamente estrangeira.

Viver assim altera até o metabolismo corporal... (e nem estou me referindo ao jet lag). Comemos o que se serve na estação... e quando se vive 6 invernos e 2 anos? Foi o que aconteceu comigo... por um tempo... intervalo de 4 anos, vivi os meses de inverno no Brasil e no “nosso verão”, como uma ave migratória que voa na contramão das “normais” que voam fugindo do frio, fui, rumo ao inverno do hemisfério norte.

Esse instinto de viver voando na contra-mão também levou-me à Europa quando todos que viviam lá estavam voltando, motivados pela crise. A diferença? A motivação. Eles foram pra ganhar enquanto eu,  ia pra levar. Nem sou tão altruísta assim, aliás, sou até bem egoísta, pois não há nada que traga maior benção ou felicidade do que voar... estar tão cheia do amor a ponto de não mais poder conte-lo só pra si. Tive que ir... tentar dividir com esse povo o sentimento e a certeza de que dinheiro e poder não é o que traz felicidade, nem paz. Dizer que paz verdadeira não é ausencia de lutas, mas tranquilidade nas lutas e sabedoria para trava-las.

Pensando como cidadã do céu, me sinto a estrangeira mais dona da terra do que o que nela nasceu, pois não estive ali pra tirar algo, ganhar a vida, mas para compartilhar a vida que já tenho e nesse compartilhar, ve-la se multiplicar... se a geografia de Deus é diferente da nossa, nem te conto o quão diferente é a Sua matemática!

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