Saudade do futuro
(palavras de uma ave migratória do avesso - voa no sentido contrário, fugindo do verão... voando... afinal, "rodas movem a produção. Asas movem a imaginação")
Você já sentiu uma angústia latente?
Um sentimento aparentemente sem motivo e tão oculto que se camufla
no cotidiano, como se não existisse? Mas você, só você sabe que
ele está ali... existindo... quase imperceptível, mas ao mesmo
tempo irresistivelmente presente.
Um desses sentimentos na minha vida é
o de “não pertencer”. Creio que seria melhor usar a expressão
“pertencer-não pertencendo”. Sofro desse mal, que também
poderia ser denominado de “ser estrangeira”. Independente de
onde esteja, sempre sou estrangeira. Sou do tipo de pessoa que me
adapta facilmente ao ambiente onde estou. Essa seria uma
característica favorável ao sentimento exatamente oposto ao que
descrevo no início desse parágrafo. Mas não o é. Mesmo me
adaptando facilmente às mudanças, me sinto sempre diferente...
estrangeira. Uma estrangeira com regalias. Com direitos adquiridos de
estar alí, mas ainda assim, estranhamente estrangeira.
Viver assim altera até o metabolismo
corporal... (e nem estou me referindo ao jet lag). Comemos o que se
serve na estação... e quando se vive 6 invernos e 2 anos? Foi o que
aconteceu comigo... por um tempo... intervalo de 4 anos, vivi os meses de
inverno no Brasil e no “nosso verão”, como uma ave migratória
que voa na contramão das “normais” que voam fugindo do frio, fui, rumo ao inverno do hemisfério norte.
Esse instinto de viver voando na
contra-mão também levou-me à Europa quando todos que
viviam lá estavam voltando, motivados pela crise. A diferença? A
motivação. Eles foram pra ganhar enquanto eu, ia pra levar. Nem sou
tão altruísta assim, aliás, sou até bem egoísta, pois não há
nada que traga maior benção ou felicidade do que voar...
estar tão cheia do amor a ponto de não mais poder conte-lo só
pra si. Tive que ir... tentar dividir com esse povo o sentimento e a certeza de que dinheiro e poder não é o que traz
felicidade, nem paz. Dizer que paz verdadeira não é ausencia de
lutas, mas tranquilidade nas lutas e sabedoria para trava-las.
Pensando como cidadã do céu, me sinto
a estrangeira mais dona da terra do que o que nela nasceu, pois não
estive ali pra tirar algo, ganhar a vida, mas para compartilhar a
vida que já tenho e nesse compartilhar, ve-la se multiplicar... se a
geografia de Deus é diferente da nossa, nem te conto o quão
diferente é a Sua matemática!