quarta-feira, 25 de janeiro de 2012


De onde você é?

A essa pergunta sempre respondo com a frase de uma palavra: “daqui”.

“Minha casa está na fronteira - e as fronteiras se movem, como as bandeiras” -  Jorge Drexler

Dizem que todos temos raízes. Se é verdade, sou hidropônica, afinal, sou constantemente transplantada, me adaptando a 'qualquer possinha' ou qualquer tipo de terra.

Ter tal facilidade de adaptação na maioria das vezes é muito bom. Principalmente quando tem-se mais de uma cidadania e/ou mais de uma 'terra' ou ainda quando viajamos muito, mas vez por outra, pessoas assim são tomadas de uma angustia ou ansiedade latente. Um sentimento aparentemente sem motivo e tão oculto que se dilui, camufla ou mimetiza no cotidiano, como se não existisse. Mas a pessoa sabe que ele está ali... existindo... quase imperceptível, mas ao mesmo tempo irresistivelmente presente – como uma “saudade de não-sei-o-quê”

Um desses sentimentos na minha vida é o de “não pertencer”. Creio que seria melhor usar a expressão “pertencer-não-pertencendo”. Sofro desse mal, que também poderia ser denominado de “ser estrangeira”. Independente de onde esteja, sempre sou estrangeira. Mesmo sendo do tipo de pessoa que se adapta facilmente a diferentes ambientes. Essa seria uma característica favorável ao sentimento exatamente oposto ao que descrevo no início desse parágrafo. Mas não é. Mesmo adaptando-me facilmente às mudanças, sinto-me sempre diferente... estrangeira. Uma estrangeira com regalias. Com direitos adquiridos de estar alí, mas ainda assim, estranhamente estrangeira.

Viver assim altera até o metabolismo corporal... (e nem me refiro ao jet lag). Comemos o que se serve na estação... e quando vive-se 8 invernos em 4 anos? Foi o que aconteceu comigo... nesses 4 últimos anos passei os meses de inverno no Brasil e no “nosso verão”, como uma ave migratória voei na contra-mão das “normais” (que voam fugindo do frio), eu voei, rumo ao inverno do hemisfério norte... além-mar.

Esse instinto de viver voando na contra-mão também levou-me à Europa quando a maioria dos brasileiros que viviam lá estão voltando, motivados pela crise. A diferença? A motivação. Esses que estão voltando foram para ganhar eu fui para levar. Nem sou tão altruísta assim, aliás, sou até bem egoísta, pois não há nada que traga maior satisfação, alegria e realização do que o fazer algo bom e produtivo por prazer... por amor.

Mas isso só ocorre quando se está tão cheia desse amor a ponto de não mais poder conte-lo só pra si. Assim, tive que ir... tive que dizer pra esse povo (ainda que pra poucos que me ouviram), através da minha arte, que TER não é o que traz felicidade, nem paz. Dizer que paz verdadeira não é ausência de lutas, mas tranquilidade nas lutas e sabedoria para trava-las.

        (foto by Eveny Borguignon - Barcelona 2011: quadro na sala de jantar)


Penso como cidadã daqui (onde quer que seja “aqui”) mas igualmente estrangeira por sentir-me também de um mundo que não é esse. Um mundo descrito em vários textos de livros bíblicos... enfim, sinto-me cidadã. (Com um “ponto” depois, sem nenhuma identificação geográfica dessa cidadania). Sendo assim, onde quer que esteja, sinto-me a estrangeira mais dona da terra do que o que nela nasceu, pois não estou ali pra tirar algo, ganhar a vida, mas para compartilhar a vida que já tenho e nesse compartilhar... dar tudo de mim sem esvair-me, e nesse dividir, ve-la multiplicar-se... isso só se faz por amor e um amor assim é transcendente... divino. E falando do divino, se a geografia de Deus é diferente da nossa, nem te conto o quão diferente pode ser a Sua matemática.




um link relacionado - indico:
http://anovacristandade.blogspot.com/2012/01/o-agora-e-o-ainda-nao.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário aguarda moderação para posterior postagem.